terça-feira, 27 de março de 2018

Pequeno poema noturno

De novo e de volta, talvez,
De hoje em diante, um pouco,
Retomar o foco num mundo louco
(Logo já faz um mês)

Um dia por vez, movendo um compasso,
Uma cadência de dados lançados
Entre breves perdas de passo.

Já se fecha a brecha do tempo,
Logo se impõe a temeridade
De impor algum tipo de intento

Numa vida que se esvai segundo a segundo
Entre móveis isentos que moldam
Um pedaço muito pequeno do mundo.

E das pequenas partes que rodam
E espiralam na luz dos destinos
Sobram fantasmas e sombras e desatinos

sábado, 19 de abril de 2014

Olho pra mim

Vivo pelos meus olhos, sempre ocupados,
Procurando em qualquer coisa algum conforto,
Alguma beleza lá nos corpos afastados
Que seja alívio p´rum desejo morto.

Meus olhos são ativos, aplicados,
Separando formas, abolindo o fundo,
Estudando os corpos destacados
Minha vontade se esvai no mundo.

Coração,

Contém meus olhos, prende-os fechados
Sob a pálpebra que me rouba o dia,
Que eu quero lembrar somente o que sentia
Quando os tinha tolamente enuviados.

Quero sentir faltar o mundo inteiro,
E que um sonho visite só meu peito,
Que sem ver qualquer delírio é verdadeiro,
Sem olhos o coração vê do seu jeito.

Quero cravar meus olhos no meu peito
E ver somente o que já tinha achado.

Skip James

Eu já me esqueci de você, amor,
Tantas vezes, tantos dias além
Dos que eu era somente sofredor,
Mas se fecho os olhos, você ainda me vem.

Caminho, querida, não gosto de repousar,
Repouso é para os que podem ficar,
E ficar é para quem está apaixonado.

Passeio num plano puro de memórias,
Passando levemente sobre elas,
Nenhuma acontece, sabendo-se pisar.

Por sobre memórias não há horizonte,
E se há um ar que o habita, é rarefeito,
Atmosfera de um planeta muito pequeno.

Meu mundo é indeciso e sem sentido,
Leve como pluma,
Delicadamente enovelado como a espuma

Do sentir,

Assim esvaziado e sem conceito,
Não aceito

O que pode me por vir.

sábado, 12 de abril de 2014

Não sinto mais meu coração

Não sinto mais meu coração,
Sentia-o próximo, não sei mais achá-lo,
Não rio com ele e não mais choro,
No máximo me umedecem os olhos.

Estou reduzido a um órgão
Sou todo pele,
Sinto tudo à pele,
Sinto-me ali.

Sensações apavorantes me vêem,
Tremores elétricos, como se à beira
De uma passagem, de um desvio
Uma descarga de mim.

Sei que tenho pele mas não sei quem a tem,
Sonho, temo, e espero ao menos, quiçá
Eu tenha um abismo dentro de mim.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mudança de página

Pessoas, meu irmão me convenceu a mudar o blog pro domínio dele, então agora o blog está na url:

http://diasmartins.net/ivan/

Espero que compareçam.

Beijos.

terça-feira, 9 de março de 2010

A lua vermelha, carregada de presságios

"Beijarei tua boca, Iokanan."

O mundo plano, o espaço vazio, o presente infinito. O mundo desobstruído, perde seus traços, seu eco, sua história, seus perigos. Só há um traço no peito, esquecido. Mas foi o traço que reteve o tempo, foi o traço que afastou os limites. Só um limite traçado no peito. No mundo, nada é agudo, senão um peito ferindo.

Nas ruas, em monótonas academias, professores de yoga mal pagos liberam bolas energéticas ao mundo. Lançaria agora uma com todos meus pensamentos sombrios, que fosse um véu, uma penumbra, um escuro, que cobrisse o mundo com todas as cores nulas do desgosto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Cartas extraviadas

Poemas e conceitos tem algo de comum: seus destinatários são ou amplos demais, ou borrados demais, como se não pudessem suportar a idéia de se atrelarem à utilidade determinada (e perecível) de uma mensagem, de um telegrama. Imagino poemas como cartas extraviadas desde o primeiro verso.

Tenho uma boa quantidade dessas cartas, perdidas já na intenção no emaranhado de dados inúteis do meu computador, presas em parte pela vergonha de sua qualidade literária. Mas não se deve atribuir autoria demais às coisas, sob pena delas se tornarem suas demais, próprias demais. Assim, é ainda outro extravio deixá-las surgir.

O impasse é o ato cobrado mas perdido,

Nem por isso impreciso

Desenhado depois de detido

Mais impossível que indeciso.


Mais indizível que inviável,

Só explicável não implicado,

Só tentado se invisível,

Só sensível se evitado.


Evitado ou interrompido,

Antevisto ou antecipado,

Enunciado se possível

Se possível indecifrável.