sábado, 19 de abril de 2014

Olho pra mim

Vivo pelos meus olhos, sempre ocupados,
Procurando em qualquer coisa algum conforto,
Alguma beleza lá nos corpos afastados
Que seja alívio p´rum desejo morto.

Meus olhos são ativos, aplicados,
Separando formas, abolindo o fundo,
Estudando os corpos destacados
Minha vontade se esvai no mundo.

Coração,

Contém meus olhos, prende-os fechados
Sob a pálpebra que me rouba o dia,
Que eu quero lembrar somente o que sentia
Quando os tinha tolamente enuviados.

Quero sentir faltar o mundo inteiro,
E que um sonho visite só meu peito,
Que sem ver qualquer delírio é verdadeiro,
Sem olhos o coração vê do seu jeito.

Quero cravar meus olhos no meu peito
E ver somente o que já tinha achado.

Skip James

Eu já me esqueci de você, amor,
Tantas vezes, tantos dias além
Dos que eu era somente sofredor,
Mas se fecho os olhos, você ainda me vem.

Caminho, querida, não gosto de repousar,
Repouso é para os que podem ficar,
E ficar é para quem está apaixonado.

Passeio num plano puro de memórias,
Passando levemente sobre elas,
Nenhuma acontece, sabendo-se pisar.

Por sobre memórias não há horizonte,
E se há um ar que o habita, é rarefeito,
Atmosfera de um planeta muito pequeno.

Meu mundo é indeciso e sem sentido,
Leve como pluma,
Delicadamente enovelado como a espuma

Do sentir,

Assim esvaziado e sem conceito,
Não aceito

O que pode me por vir.

sábado, 12 de abril de 2014

Não sinto mais meu coração

Não sinto mais meu coração,
Sentia-o próximo, não sei mais achá-lo,
Não rio com ele e não mais choro,
No máximo me umedecem os olhos.

Estou reduzido a um órgão
Sou todo pele,
Sinto tudo à pele,
Sinto-me ali.

Sensações apavorantes me vêem,
Tremores elétricos, como se à beira
De uma passagem, de um desvio
Uma descarga de mim.

Sei que tenho pele mas não sei quem a tem,
Sonho, temo, e espero ao menos, quiçá
Eu tenha um abismo dentro de mim.